No amor livre, sexo é gratitude, afirmação de gênero e subjetividades.

In free love, sex is gratitude, gender affirmation and subjectivities.

Curador:
Sandro Leite

Artistas:
Fernando Siqueira
Oliver Olívia

O amor e o sexo livres: no amor livre, enquanto movimento social que discutiu a autonomização das relações pessoais e conjugais, ou seja, o direito de sentir prazer, o sexo foi tema acalorado. Aliás, sempre que o tema é sexo, nossos sentidos ficam aguçados. Sexo é energia vital, é relacional e sustentação egóica. Mas o sexo não é apenas uma aventura pelos sentidos, pois faz despertar percepções importantes sobre si mesmo e sobre os outros. O ato sexual é, também, palco de trocas simbólicas. O princípio sexual é lúdico: o encaixe. Praticamos desde crianças e com brinquedos (não é à toa que objetos sexuais de adultos são denominados como “brinquedos”) a dinâmica conectiva e disjuntiva: algumas formas se encaixam, outras não. Não se trata, portanto, de um ato aleatório ou descompromissado, mas de busca por um sentido.

O amor por si próprio e afirmação de gênero: a afirmação de si e no mundo passa, indiscutivelmente, pelo corpo. As ideias e as teorias discutem, o corpo as coloca em prática. O processo de autoafirmação, muitas vezes, é regido pela transgressão das normas, das crenças. Sempre que isso acontece podemos considerar como um afrontamento daquilo que já sabemos ou, também, daquilo que ainda não tem forma, pois está “em” processo. A transitoriedade de corpos, moldes, gêneros é sintomática de tempos igualmente transitórios. Qual a garantia para a afirmação de si mesmo? O amor por si próprio!

O corpo como tema na arte: não é de hoje que o corpo se faz visível por meio da arte. Um dos temas das pinturas parietais era as mãos, cujos registros podem ser encontrados em cavernas ao redor do mundo. Nesse contexto, o ato de printar as mãos sobre as superfícies poderia estar relacionado à necessidade de deixar marcas, como uma digital, bem como uma tentativa de comunicação com habitantes locais. Talvez um primeiro indício de autoidentificação!? Talvez como se ver no espelho pela primeira vez!? A desconfiança de que esse corpo não era apenas um meio para se fazer visível no mundo (instinto de sobrevivência), mas portador de uma “alma” que o povoasse, pode ter acionado o “desejo” de se autoconhecer através da externalização de impressões internas. Quem sabe não tenha sido essa a grande motivação para a fundação da arte.

O sexo como meio de experimentar o mundo: não basta que o corpo se faça visível, que se movimente e se expresse no mundo, é preciso se alimentar. E como fazemos isso? Devorando o mundo! Significa experimentá-lo de novo, e mais uma vez. Os bebês iniciam assim a jornada sensorial de sabores, aromas, texturas e cores: “devorando o mundo, eu o incorporo e consequentemente o conheço melhor”. Estamos falando de processos nutritivos que se iniciam, como sabemos, no ambiente intrauterino. Desconfio que nesse ambiente hermético e nutridor sejam despertadas as primeiras impressões de autoprazer. Portanto, experimentar o mundo é nutridor, sensorial e sexual.