FRONTEIRAS: Filmes por Leonardo Pirondi

BORDERS: Films by Leonardo Pirondi

Leonardo Pirondi nasceu em São Paulo, Brasil. Ele é um realizador de filmes brasileiro português baseado em Los Angeles, Califórnia, criando filmes experimentais e documentários que investigam ideias, eventos e comportamentos existentes em um mundo imaginário e real.

Curador:
Sandro Leite

Artista:
Leonardo Pirondi

_______________________LINHAS,

vias, meios, contornos, formas. Uma linha nos coloca no caminho. Uma linha define uma fronteira: separa, distorce, deixa marcas. Inúmeros foram os fatos históricos que moldaram o formato do mapa geográfico mundial e também dos corpos. Quantas histórias dissonantes se cruzaram, culturas em choque, traumas – corpos moldados, corpos não naturais, corpos adaptados para a sobrevivência. Interferir na demarcação de fronteiras é arriscar- se! Igualmente arriscado é investir energia sobre o próprio corpo, marcando-o à força. Como se a incapacidade de lidar com os conflitos ou a inabilidade de expressar sentimentos se rebelassem contra o próprio corpo, palco de emoções e desejos. Talvez por isso a arte liberte, liberta-nos pela catarse, coloca-nos em cena e nela apaziguamos todo e qualquer tipo de sofrimento – o filme da vida!

Linha de fronteira emerge também entre a capacidade criativa humana e o surgimento dos artefatos tecnológicos. Seja utopia, livre pensar ou fantasiar, a delegação de funções humanas para as máquinas revela uma necessidade para além da esfera humana, de criar uma natureza moldada por uma necessidade ou capricho. Essas criaturas magníficas, forjadas em fôrmas e circuitos são a salvação, mas também ruína. Paradoxo de Moravec!

________________________________LINHAS ONÍRICAS

moldam os sonhos, emolduram cenas, delimitam narrativas, constroem sentidos. Sonhar é estar desperto para os sinais que brotam do inconsciente. Dar visibilidade ao sonho, desenhando-o e dando-lhe movimento e sonoridades nos coloca diante da tênue fronteira entre o estar dormindo e o estar acordado, entre o sonho e a vigília, entre a noite e o dia, entre a loucura e a sanidade. O sonho é esse persistente e diário vestígio documental que nos alerta sobre as frágeis certezas que a consciência e o trabalho diurno insistem em considerar como hegemônicas. Tolos são os que não sonham!

O insólito

Os quatro filmes criados por Leonardo Pirondi se direcionam por vias distintas, fruto de sua pesquisa sobre materialidades cênicas, aparências e jogos de sentido, mas se aproximam por uma linha, uma linha que guia sem fixar caminhos, limites ou fronteiras. O jogo insólito de cenas e frames se combinam pelas singularidades que as imagens despertam, isoladamente. O que esperar de um jovem artista, ou de jovens artistas contemporâneos inseridos em um mundo em processo de fragmentação e incertezas? Quais garantias uma obra fílmica poderia assegurar na torrente de sentimentos e sensações diante de processos sindrômicos de adoecimento e desesperança? Coletar imagens, justapô-las ou sobrepô-las seria suficiente para despertar no ouvinte ou no vivente um eco de arrependimento? É possível buscar sentidos onde não se vê mais sentido? O que buscamos?

Se o ato de criar persiste, ainda resta esperança!