Intersubjetividades: o invisível, paisagens e o Eros-criativo.

Aquilo que não se revela em forma, em cor, palavra, som ou corporalmente, tende a desvanecer.
Está no gesto criativo e na obra que se cria, o ato e o produto da teimosia da inspiração em tomar como propósito a possibilidade de se tornar visível.

Sendo o real tudo aquilo que me toca, o invisível (e tudo o que se processa na invisibilidade) é imagem tão potente quanto o “Urinol” de Marcel Duchamp ou o “Existencialismo” de Fernando Pessoa.

Mas então para que serve a arte? Uma desculpa para expressar o indizível.
E são paisagens – internas, recônditas ou aquelas timidamente modeladas pela luz da lua, empalidecidas pela neblina ou atormentadas pelo sol do meio dia.
São manifestações do Eros-criativo. São manifestações de tudo aquilo que é intuído, sentido e trazido à luz. É a graça da vida. É vontade, desejo, espera e deleite.

Sizígia
A dinâmica dos entrelaçamentos, dos toques (corpos, coisas, situações, pensamentos), dos encontros e desencontros, do espaço compartilhado e dos estilos vão além dos tipos humanos e das formas e das cores.

É na troca que se fecunda!
Diante da diferença é que se revela a criação.

O que é de mim?
O que é do outro?
O que está no “entre” estas duas instâncias?

A opacidade esconde alguma coisa ou funciona como proteção para um processo de introspecção?
A transparência mostra o que tem do outro lado ou dilui as formas e suas materialidades?
Opacidades discorrem sobre intensidades e rugosidades, como um convite ao enfrentamento de fronteiras que se tocam, sem que sejam penetradas – uma luta corporal.

Transparências convidam ao experimento de derretimento das cores e das formas, sem que se estabeleça um ponto fixo ou lugar de onde se possa descansar – um frenesi.
Entre opacidades e transparências está o gesto. Um gesto mais contido, quase geométrico, que transborda. Um gesto dispersivo, sensual, que também transborda. Um gesto como recorte, um gesto contínuo, um certo esfriamento, uma certa quentura, uma certa aspereza, uma certa viscosidade.

— Sandro Leite

NOTA DOS ARTISTAS

Estes trabalhos foram criados da mesma forma que nós trabalhamos - dentro do mesmo lugar, em simultâneo, separadamente. Cada um ocupa o seu espaço, imerso na sua prática, e as obras vão ganhando forma frente a frente. O processo de montar esta exposição passou por entender onde estes dois corpos de trabalhos se encontram, um processo íntimo que surge da nossa própria experiência enquanto um casal. O momento do encontro e o espaço da distância. Percebemos que a experiência individual também se cruza, mesmo quando permanece no invisível. Ficou claro que a base das nossas ações tinha em comum as questões da liberdade, o cultivo da curiosidade e da experimentação no processo da pintura, a abertura ao inesperado na formação das imagens e a exploração do potencial do momento atual. Estas são algumas das questões que motivam a nossa prática. Estradas que seguem retas às vezes também se cruzam.

- Sebastião Paz Costa & John Faifer