Artista:
Renato Dib

Curador:
Sandro Leite

A relação entre anatomia e arquitetura

Qual a origem da arquitetura? O corpo.

Na visão cristã o corpo é receptáculo do divino, por isso imaculado. Quando se diz – à imagem e semelhança de Deus, diz-se também do micro e do macro, do interno e do externo, da casa interior e da casa de Deus.

Na arquitetura, o prolongamento do corpo pode ser observado nos ambientes herméticos que remetem ao útero materno, palco de experiências sensoriais fundantes para a geração e nutrição de um ser. Assim é o interior da igreja, da sala de espetáculos e todo tipo de artefato que tenha como principal função a proteção, o encapsulamento.

Construções que apontam para o céu, como arranha céus, torres de igrejas, minaretes remetem à elevação do espírito a partir da experiência humana cotidiana. São totêmicas. São estacas. São fálicas. Construções conectivas remetem a experiências de penetração. Assim são os jogos infantis de encaixe (macho-fêmea), são os túneis, os labirintos.

Orifícios

Orifícios são janelas.

Olha-se para dentro, de dentro para fora. Há a curiosidade humana de olhar para além de seus próprios recursos, para além do que é escuro, desconhecido. Foram inventados o telescópio e o microscópio. Por meio destes, o olhar humano contempla paisagens intuídas ou desejadas, ampliando-se assim as formas de contemplação, deleite, mas também de nomeação e poder. Olhar pressupõe mensurar, discriminar, corromper aquilo que se vê originalmente. Não há olhar imparcial. Há sempre interesse, desejo!

Superfícies viscosas

O corpo, visto por dentro, é viscoso. É fresco, deslizante.

Superfícies viscosas permitem o contato com outros órgãos – se misturam sem perder a integridade.

Viscosas são as relações...

O movimento circular

É rotativo, é rotatório. É um incessante ir e vir. É sensual!

As colagens e técnicas mistas que compõem a exposição “Labirinto de Gabinetes” do artista visual Renato Dib são construções complexas. Fazem parte de uma pesquisa relacionada com entrelaçamentos. Por entrelaçamento subentende-se a justaposição, sobreposição e jogos de penetração entre cores, formas e temas e derivam de uma pesquisa maior que culmina em obras têxteis. As fine art especialmente preparadas para a exposição foram impressas sobre tecido em grande formato com o intuito de aproximar o visitante de uma experiência cinestésica, uma qualidade que perpassa o trabalho do artista e um convite para o inebriamento. São obras recheadas de surpresas que aguçam os olhos, mensagens subliminares e despertamento das sensorialidades.